quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A última peça


       Ele passara a vida toda sentado nas cadeiras do grande teatro, via todas as peças, mas nunca atuava, preferia ser platéia! Ele aplaudia, ria, chorava, mas nunca subia ao palco. Ficava ali quieto, assistindo...

       Um dia resolveu atuar. Maquiou-se como um palhaço, vestiu seu melhor terno, passou o seu melhor perfume e subiu ao palco.

       Lá estava só. Desejou por um instante ter a mulher que amava ao seu lado, contemplou a platéia e a viu, com seu glorioso modo de encaracolar os cabelos com as mãos.

       Viu a todos que amava e notou que as luzes do teatro iam ficando cada vez mais fracas, e a imagem das pessoas também se enfraquecia.

       Rapidamente todas as pessoas se foram, e junto delas a luz. Apenas uma permaneceu e sob ela um homem. Um homem perfeitamente feio, um homem com tristeza nos olhos e dor no coração. Perguntou-se quem era aquele homem e não achou respostas. A luz retornou e o cegou.

       Enfim lembrou quem era. Aquele homem o acompanhara por toda sua vida, sempre o pusera pra baixo, sempre o fizera chorar. O seu nome... o seu nome... ele não recordou, mas, lembrou de um sorriso que jamais havia visto.

       Uma lágrima desabou sobre o palco, as cortinas se fecharam e ele adormeceu gentilmente.